A música é uma expressão de energia que pode afetar os sentimentos de quem a ouve, mas não se restringe apenas a afetar as emoções. A potência do som não se limita a encantar quem o escuta; estudos científicos indicam que as ondas sonoras possuem tal poder que podem até deslocar objetos fisicamente de um local para outro.
Não é coincidência que essa área é frequentemente analisada em várias áreas da ciência. Por exemplo, há estudos que buscam empregar ondas sonoras como um meio de manipular partículas de menor tamanho.
Arthur Ashkin, um físico dos Estados Unidos, recebeu o Prêmio Nobel de Física por desenvolver uma tecnologia similar. Ele desenvolveu pinças ópticas que empregam lasers para manusear essas partículas de tamanho reduzido.
Embora as pinças ópticas sejam uma grande inovação, alguns pesquisadores argumentam que a tecnologia possui diversas restrições, pois requer condições extremamente controladas para funcionar adequadamente. Uma pesquisa recente realizada por um grupo da École Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL), na Suíça, indicou que é viável obter um resultado parecido por meio de ondas sonoras.
Os cientistas da EPFL ressaltam que o novo procedimento é totalmente inspirado na tecnologia óptica do laureado com o Nobel. Esta tecnologia poderia ser empregada na biomedicina, particularmente em usos não invasivos para a administração de fármacos. A pesquisa foi divulgada na revista especializada Nature Physics.
A investigação, além da EPFL, envolveu pesquisadores da Universidade de Bordeaux (França), da Universidade Nazarbayev (Cazaquistão) e da Universidade de Tecnologia de Viena (Áustria).
As “pinças ópticas” operam através da criação de um “ponto quente” de luz para a captura de partículas, semelhante a uma bola que cai num buraco. “No entanto, se existirem outros objetos próximos, esse buraco pode ser complicado de formar e deslocar”, afirmou Romain Fleury, chefe do Laboratório de Engenharia de Ondas na Escola de Engenharia da EPFL e um dos autores do artigo.
As ondas sonoras impulsionam objetos.
A equipe liderada por Fleury, em colaboração com os pós-doutorados da EPFL, Bakhtiyar Orazbayev e Matthieu Malléjac, dedicou aproximadamente quatro anos para compreender a dinâmica do controle de objetos pequenos através da tecnologia de ondas sonoras.
Os cientistas só necessitam de uma única informação para mover objetos através do som: a localização do objeto. Eles esclarecem que as características físicas do objeto e o ambiente não afetam o resultado.
Ao longo da experiência, uma bola se movia sobre um reservatório de água. A câmera detectou sua localização e, através das ondas sonoras emitidas por um conjunto de alto-falantes, a bola iniciou seu movimento de acordo com as ondas.
Parece que o som está impulsionando a bola para outra direção. Em outras palavras, ele não faz a bola flutuar diretamente, mas a move para um local diferente.
De acordo com os pesquisadores, a técnica se baseia na preservação do momento, algo parecido com uma partida de hóquei no gelo: a bola se encontra sobre uma superfície, e as ondas sonoras atuam como um taco, movendo a bola através do gelo.A pesquisa declara que essa é a primeira aplicação que emprega ondas sonoras para mover um objeto, baseada na técnica óptica que ganhou o Nobel.
Os cientistas esclarecem que a técnica pode ser um progresso para o campo das análises biológicas e engenharia de tecidos. Neste cenário, poderíamos manipular células sem a necessidade de toque direto, prevenindo qualquer perigo de contaminação ou dano físico. Durante os experimentos, eles também manipularam outros itens, como um origami feito de papel.
“Algumas técnicas de administração de medicamentos já empregam ondas sonoras para liberar fármacos encapsulados, tornando essa abordagem particularmente atrativa para direcionar um medicamento diretamente para células cancerosas, por exemplo”, afirmou Fleury.