A Inteligência Artificial (IA) tem revolucionado a tecnologia em todos os seus aspectos. Claro que os jogos eletrônicos não são uma exceção.
Apesar de ter ganhado notoriedade nos últimos anos, o uso da Inteligência Artificial já é conhecido há algum tempo. Os jogos eletrônicos comprovam isso. Em 1974, Pursuit e Qwak utilizaram a Inteligência Artificial em padrões de movimento, onde os jogadores atiravam em alvos que se moviam. Um ano mais tarde, Gun Fight continua a utilizar o mesmo recurso nos movimentos aleatórios dos personagens. Ainda em Pac-Man, a Inteligência Artificial é introduzida. O famoso jogo de 1980 mostra fantasmas cada vez mais sagazes a cada nível, aparentando até possuir uma personalidade independente. Outro clássico, Doom, foi lançado em 1993 para PC. Inventor dos jogos de tiro em primeira pessoa, introduz a Inteligência Artificial.
Em 1996, BattleCruiser: 3000AD inaugura a aplicação de redes neurais em jogos eletrônicos. Em 1998, Half-Life é lançado. O famoso FPS da Valve utiliza a Inteligência Artificial de uma maneira inédita até agora, através de scripts. The Sims, um dos jogos de vídeo mais famosos e bem-sucedidos da história, chega ao PC no ano 2000. Neste, a Inteligência Artificial atua em várias áreas, incluindo a tomada de decisões, as interações sociais e as trajetórias.
A SELEÇÃO DE ESTÚDIOS
Hoje em dia, a indústria de jogos eletrônicos é bastante distinta da que foi recebida pelo século XXI, utilizando cada vez mais recursos de Inteligência Artificial. Segundo um estudo da Unity, divulgado em março deste ano, 62% dos estúdios empregam a Inteligência Artificial em diversas etapas do desenvolvimento de jogos. Um dos motivos é a exigência de simplificação e aceleração de procedimentos, diminuindo dessa forma o tempo médio de lançamento. A pesquisa também ressalta a flexibilidade das utilizações da Inteligência Artificial no desenvolvimento de jogos eletrônicos, com 68% dos programadores mencionando a aceleração na elaboração de protótipos. Por outro lado, 56% destacam a elaboração de cenários e 64% enfatizam a relevância do desenvolvimento de personagens que não podem ser jogados.
Mas será que a Inteligência Artificial ameaça o trabalho dos artistas? Paweł Sasko, responsável pelo design de quests na CD Projekt Red, expressou sua perspectiva em uma entrevista concedida ao IGN. O diretor do estúdio polonês, famoso por obras como The Witcher e Cyberpunk 2077, destacou a quantidade significativa de estúdios que realizam pesquisa e desenvolvimento interno de instrumentos artísticos.
De acordo com Sasko, isso permite a geração do maior número possível de ideias nas etapas iniciais do conceito e a seleção do que realmente funciona. Portanto, a Inteligência Artificial integra o departamento de arte não para substituir o artista, mas como um instrumento que direciona a busca e a perspectiva dos criadores do jogo ao trabalharem com ele. A Inteligência Artificial pode proporcionar inúmeras possibilidades que jamais imaginaríamos. “Isto pode ser útil como ponto inicial ou como instrumento para brainstorming”, afirmou o designer.
A IA EM AÇÃO
A geração de conteúdo procedimental (PCG) é uma das tecnologias associadas à Inteligência Artificial. Esta emprega algoritmos de Inteligência Artificial na criação de conteúdo de jogos em tempo real, o que pode ou não envolver a participação do jogador. No Man’s Sky e Minecraft são exemplos de jogos que utilizam PCG orientado por Inteligência Artificial.
A Inteligência Artificial também tem desempenhado um papel crucial na interação com personagens não jogáveis. Utilizando ferramentas de Inteligência Artificial, podemos desenvolver NPC (Personagem Não Jogável) com comportamento adaptável, que fazem escolhas com base nas interações com os jogadores. Assim, o jogo adquire maior realismo e imersão. Os diálogos também se beneficiam, com as personagens não jogáveis respondendo de maneira mais natural e contextual às questões e ações do jogador. Ainda é possível programar as NPC com algoritmos para tomar decisões inteligentes, atuando de maneira estratégica e desafiadora.
Isso envolve avaliar alternativas, levar em conta riscos e benefícios e selecionar a estratégia mais eficaz. O aprendizado de máquina também alcançou as NPC. Essas se desenvolvem e se aprimoram com o passar do tempo, ajustando-se ao estilo de jogo do jogador, analisando falhas e êxitos e aprimorando suas competências conforme o jogo progride. Os programadores já empregam a Inteligência Artificial para desenvolver NPCs com personalidades únicas e emoções autênticas. Assim, as personagens são capazes de manifestar diversos estados de espírito em face de diversas circunstâncias, o que as torna mais humanas e atraentes. Finalmente, a Inteligência Artificial possibilita o desenvolvimento de NPCs aptos a colaborar em grupo. Essas são capazes de coordenar estratégias e interagir entre si.
Frequentemente, a qualidade de um jogo está em ser desafiador sem resultar em frustração. Aqui, a Inteligência Artificial pode desempenhar um papel crucial, examinando o comportamento e competências do jogador, adaptando a dificuldade de acordo com a maneira como ele joga. É o caso dos algoritmos de Aprendizado de Máquina, utilizados por sistemas de jogos adaptativos guiados por Inteligência Artificial para customizar a experiência de cada jogador. Esta é capaz de analisar as preferências, comportamentos e níveis de competência para alterar de maneira dinâmica os elementos do jogo, como a disposição do nível, as interações com os adversários e a disposição dos itens.